Picadeiro da Informação

Tuesday, September 19, 2006

Chefe previsível

Este anúncio do jornalista astrólogo (leia post abaixo) me fez lembrar de um episódio ocorrido num jornal em que trabalhei. Na época eu era estagiária e uma das minhas funções, acreditem, era, todos os dias, pegar o fax que o astrólogo mandava para o jornal com as previsões, digitar o texto e ajudar o diagramador a montá-lo na página. Antes de prosseguir com a história, se faz necessário uma explicação: tudo bem que não sou tão velha assim, mas naquela época e-mail não era uma coisa muito comum, então o tal astrólogo mandava o fax e eu digitava.

Pois bem, um belo dia chegou o horário de eu pegar o fax (+/- 16h) e quem disse que o astrólogo tinha enviado? Liguei para a casa dele para cobrar, para o celular e... nada. E são nessas horas que o tempo parece que corre mais depressa, não é? Já tinha passado o horário de fechar a página e eu não tinha as benditas previsões para pôr. E o pior, não sei o porquê, mas naquele dia nem o editor nem o editor executivo estavam na redação para eu perguntar o que fazer.

Comecei a me apavorar, afinal, era estagiária. Uma amiga, que também era estagiária, viu meu desespero, a cobrança do diagramador e sugeriu que eu mesma fizesse o horóscopo e mandasse. “Ninguém vai saber, disse ela”. No início, achei a idéia absurda, mas com o fechamento mais que atrasado, não tive escolha. Entrei em um site em inglês, traduzi as previsões e mandei bala. Com o cuidado, é claro, de tirar o nome do astrólogo da página naquele dia.

Para mim, o assunto tinha morrido ali. Não é que no outro dia, assim que coloquei o pé na redação, o editor executivo fala alto para todos: “Chegou a nossa astróloga”. A redação inteira começou a bater palmas para mim. Quis morrer de vergonha, me atirar pela janela! A única coisa que vinha na minha cabeça era: “como eles descobriram?”. A resposta veio em seguida, em um particular com meu chefe na “geladeira” (uma salinha da redação onde ficavam os servidores, com um ar condicionado fortíssimo, que era usada para as broncas): depois que eu fui embora, o astrólogo ligou para o jornal pedindo desculpas por não ter enviado as previsões porque tinha morrido um parente. Levei uma bronca daquelas. Ainda tentei argumentar que as previsões não eram minhas, tinha pego em um site, traduzido e tudo mais (a maior trabalheira), mas de nada adiantou. A conversa terminou com um “que isso não se repita”. Nem preciso dizer que fiquei arrasada! Me sentindo a pior jornalista da face da terra...

Mas, como no jornalismo tudo pode acontecer, no dia seguinte da bronca, uma leitora ligou lá no jornal agradecendo pelas previsões. Disse que no dia anterior, conforme estava escrito no signo dela, ela tinha recebido uma notícia boa (tinha sido contratada por uma empresa). O pior foi meu chefe tendo que contar isso para mim e ainda dizendo: “me passa o endereço do site que você pegou as previsões... caso o astrólogo volte a dar mancada, a gente pega de lá...

*** História enviada pela jornalista colaboradora "Equilibrista"

3 Comments:

  • Não me lembro quem uma vez me contou que deixou de acreditar em horóscopo quando começou a trabalhar em um lugar em que tinha de inventar as previsões.

    By Anonymous Anonymous, at 4:33 PM  

  • Tão vendo, né?! Ninguém acredita que essa área (astrologia) tem futuro!
    E sabem por quê a previsão acertou na mosca? O cara que escreveu tinha MBA em holística (rs)!!!!!

    By Blogger Contorcionista, at 8:19 PM  

  • Ah, eu trabalhei em um jornal que a gente usava as previsões de um livro. Só que este tinha sido publicado cinco anos antes. Ninguém nunca falou nada...

    By Anonymous Anonymous, at 3:50 AM  

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