Picadeiro da Informação

Monday, July 24, 2006

Carta-bomba

É verdade que nem sempre conseguimos agradar a gregos e troianos, mesmo morando no Brasil. O problema é quando você faz inimigos que nem conhece. Nesse caso, leitores. O leitor é um ser muito peculiar porque ele pode ser um grande aliado, mas também, seu pior inimigo.

Um famoso colunista da Folha pode dizer muito bem como é isso. Uma fez presenciei esse jornalista tendo um "ataque" na redação. Ele abria suas correspondências quando, de repente, indignado, amassou uma das cartas, esbravejou, e saiu da redação batendo o pé. Então escutei: ih, fizeram de novo.

Com curiosidade típica de minha profissão fui apurar o que havia acontecido. Então me explicaram que, pelo menos uma vez por mês, o colunista recebia carta de um leitor que não gostava do que ele escrevia. O melhor é que, para protestar e dizer que a coluna do cara era uma merda, o leitor (desculpem-me ser tão direto) limpava a bunda com a folha do jornal onde estava a coluna do cara e mandava pra ele.

Por isso, meus amigos, cuidado ao abrirem suas correspondências na redação. Nunca se sabe o que nos aguarda. E-mail é a melhor forma de comunicação!

Friday, July 21, 2006

Folgado é pouco

Trabalhei durante dois anos de madrugada (da meia-noite às 7h, 8h, 9h...) num importante jornal on-line em São Paulo. No meu horário de saída começavam a chegar as pessoas normais que trabalhavam em horários normais. Também no mesmo horário já estavam liberados os jornais do dia que eram levados para as redações para que os repórteres pudessem se atualizar, ver os furos do dia, essas coisas.

Como o editor de homepage chegava pela manhã, ele passava para pegar os jornais que ficavam no térreo do prédio em frente ao prédio da redação. Quando não, mandava que eu buscasse. Um dia ele disse que não faria mais isso e que seria minha obrigação. Então, todas as manhãs eu executava o serviço lusitano. Parava o que estava fazendo, descia, atravessava a rua e pegava os jornais. Quando estava chovendo era uma maravilha. Às vezes encontrava com o elemento editor no caminho.

Um dia me revoltei e disse que não faria mais isso, já que não era pago pra ser "boy", porque tinha que parar o que estava fazendo e porque ele passava todos os dias em frente ao local onde estavam os jornais. Ele não gostou, mas voltou a executar a tarefa. Semanas depois ele foi elevado a editor-chefe. Então me chamou na sala dele e disse que eu teria que voltar a ser burro de carga. O argumento? Seguem as palavras dele:

"Os jornais mancham a roupa e soltam tinta nas mãos. Eu não posso ir para a reunião de pauta todo manchado e sujo. Não pega bem pra mim." Vê se eu mereço?!!! Será que ele já ouviu falar em água e sabão???

Como peão não pode ficar batendo de frente, voltei a realizar a tarefa. Graças a Deus, umas semanas depois me colocaram para trabalhar durante as tardes e deixei um pouco de lado a vida escrava. Ah, os jornais? Ele arranjou outra pessoa para pegá-los. Uma que chegava às 7h junto com ele.

Tuesday, July 18, 2006

Ratos e jornalistas

Trabalhei numa pequena empresa de comunicação que começou a crescer, lançar novos títulos, contratar gente... enfim, parecia até um milagre sendo uma empresa de comunicação, mas claro que paraísos não existem. Então, apesar do crescimento, o investimento em infra-estrutura não acompanhava... Eram poucos computadores, mesas que eram sub-divididas, ramais que tinham que ser partilhados, coisas desse tipo.
Eu trabalhava com uma equipe pequena numa sala pequena também, mas até razoável porque tínhamos o privilégio de ter uma vista para o jardim. Eu ficava até feliz de que no meio daquele aperto todo eu trabalhava numa sala com vista para o jardim..., mas eis que um dia o surreal aconteceu.
No dito cujo jardim havia um comedouro para passarinhos e um dia, olhando pela janela, decerto buscando inspiração para escrever algum texto, vi um "passarinho" meio estranho se alimentando ali, olhei melhor e não era passarinho nada, era um rato, bem do nojento, que fazia suas refeições no jardim... Dei um grito que assustou os colegas de redação, todas mulheres que junto comigo saíram correndo da sala...
Já no corredor, encontrei o senhor que fazia a faxina do prédio... e eu:
— Seu fulano, tem um rato lá no comedouro do jardim...
Pior foi a resposta do seu fulano...
— Ih... liga não, volta e meia aparecem ratos aqui, acho que eles vêm da casa da vizinha... A gente até já encontrou um rato morto atrás da mesma da ciclana outro dia...

Cara de palhaça, pinta de palhaça...

Essa foi encaminhada por uma colaboradora.

Sabe aquela história de que nosso destino está traçado e não há como mudar... Antes mesmo de imaginar que seria jornalista, estava desempregada (se é que alguém fica desempregado sem nunca ter trabalhado...). Mas, vamos à história...

Fui parar em uma agência de empregos em São Caetano do Sul. Após um chá de cadeira de horas, quando já quase anoitecia, escolheram alguns candidatos para a “seleção”. Eu era a própria “Tassia” (Ta se achando).

Finalmente ia conseguir meu primeiro emprego... A vaga? Animar festa! Isso mesmo. O cara, um picareta de marca maior, segurou o povo a tarde inteira para oferecer aos palhaços que agüentassem até o final, aquela vaga de animador de festa infantil... Claro que se eu soubesse tudo que iria passar como jornalista, teria achado esta situação super normal!

Sunday, July 16, 2006

Cirque de l'enfer (Circo do Inferno)

Trabalhei num circo que tem vários embargos, principalmente, religioso. Quando o Papa João Paulo II estava mais pro céu do que pra terra, a redação, rapidamente, produziu um VT com imagens recém chegadas da Reuters. O OFF dizia apenas sobre o agravamento do estado de saúde do líder do Vaticano. Logo após que o material foi ao ar, o dono do circo, que não é simpatizante da igreja católica apostólica romana, ordenou que o departamento circense não noticiasse nada sobre o Karol Wojtyla. Nem desse a morte. Todos ficaram indignados porque ninguém queria canonizar o sujeito. Apenas relatar o fato (pô, até a emissora que desfaz despacho depois da meia noite deu a notícia e ainda fez uma biografia!). Enfim, após o falecimento do Papa um certo palhacinho colunista de TV, que escreve para um jornal de grande circulação do país, ligou pra gente e questionou a omissão do tal acontecimento no telejornal. Após uma breve troca de palavras entre o chefe do picadeiro e o dono do circo, o subordinado respondeu ao palhaço do impresso que "demos uma nota pelada sobre o assunto" (ué, não é pecado mentir?). Mas o melhor de tudo, respeitável público, é que no dia da morte, alguém fez um inocente VT sobre a importância de se fazer o exame de PAPAnicolau (rs). Palhaço bom é aquele que nunca perde a piada!

Thursday, July 13, 2006

Quase uma luta livre

Certa vez, numa redação em que trabalhei, o editor geral e o editor de economia por pouco não se atracaram na frente de todos por causa de uma foto que foi colocada por um deles no site do jornal.

O editor geral, que deveria tomar conta da lojinha, foi ao cinema com a desculpa de que tinha que escrever uma crítica sobre um filme e largou a bomba nas mãos do editor de economia. Lá pelas tantas ele colocou no ar a foto de um ex-ministro levando uma tortada num evento. Na foto, em frente à vítima, aparecia o agressor. Na legenda a descrição: manifestante acerta torta na cara do ministro...

Quando o editor voltou e viu aquilo, surtou. "Quem disse que essa pessoa acertou a torta??? Pode ser alguém que estava ajudando o ministro, limpando o coitado......" Pronto. O tumulto foi instaurado, de um lado o editor geral mandando aos gritos que tirassem a foto do ar. De outro o editor de economia confirmando que aquele era o agressor, que estava na legenda mandada pelo fotógrafo etc.

O mandachuva partiu para a ofensa dizendo que sem ele aquele lugar não andava, que o editor de economia era um menino e que não sabia das coisas, um foca.... o mandou para a pqp e tudo mais. Irado, o editor de economia levantou de sua mesa e foi até o aquário do chefão, com o dedo em riste, gritando: você não fala assim comigo, se eu estou falando que é isso é porque é, não sou criança...

O bom do pedaço então gritou mais alto e colocou o pobre editor de economia pra fora de sua sala, aos gritos, com direito a batida de porta na cara. Meia hora depois, ele se dirigiu à mesa do editor de economia e, mansinho, pediu desculpas. Disse que estava muito gripado (isso mesmo, gripado) e que não estava raciocinando direito e que por isso ficou nervoso.

Vê se dá pra agüentar uma coisa dessas. A redação, toda com cara de bunda, não sabia se ria ou se promovia um quebra-quebra contra as sandices do bárbaro.

Monday, July 03, 2006

Política de corte de custos

Esta é de uma empresa que não existe mais...
Era uma vez uma pequena empresa de comunicação. Sedentos por cortar custos onde quer que fosse, os sócios resolveram que os funcionários deveriam usar apenas um copo plástico, descartável, durante o dia todo. De manhã a gente chegava, pegava um copo, marcava o nome, a caneta no copinho, e usava ele até o final do dia. Se tomasse café, tinha que lavar e usar o mesmo para beber água... e ai de quem fosse pego desperdiçando copinhos. Só podia ter copos no lixo depois das 18h, hora em que acabava o expediente...
Mas isso não foi nada perto do que aconteceu no Natal (engraçado... as maiores bizarrices bem na época do ano em que deveria prevalecer a paz e a generosidade. Vai entender...). Bem, chegou o Natal e todo mundo estava esperando pelo menos um presentinho, ou um vinho, um panetone que fosse. E eis que, sim!, houve um panetone, mas só um mesmo, para ser sorteado entre os quase 50 funcionários. Imagina a cena patética: quase 50 pessoas esperando para ver se ganhava... um panetone.Um dos donos, antes do sorteio, ainda alertou todos ameaçando: "se o sorteado for alguém que não estiver presente, não vai ganhar o prêmio..."
Lembrando disso, fica até mais fácil de entender porque essa empresa não existe mais...