Picadeiro da Informação

Thursday, September 28, 2006

Passando a perna na rapaziada

Certa vez fui mandado em cima da hora para uma delegacia para acompanhar a prisão de uns meliantes corintianos que haviam matado um torcedor do palmeiras numa dessas brigas de torcidas, quero dizer, gangues.

Ao chegar à delegacia para a minha matéria estilo Cidade Alerta, encontrei vários colegas de TV, rádio e jornais que já tinham conversado com o delegado. Então tive que recuperar as primeiras informações com conhecidos. Nisso fiquei sabendo que o delegado do distrito ainda iria falar com os elementos e daria uma coletiva após a sessão de tortura, digo interrogatório.

Eu já havia passado umas notas para a redação e estávamos todos lá na porta da delegacia esperando pelo delegado. Eis que o cinegrafista de uma emissora chega e fala pra gente: “Acho melhor vocês subirem no primeiro andar porque o Fulado de Tal da Globo está no corredor pegando uma exclusiva do dr. Delegado.”

O batalhão de repórteres (inclusive eu) e cinegrafistas correu pelas escadas e encontrou o dito malandro, ops, jornalista, gravando uma sonora com o delega. Claro, todos postamos nossos gravadores e microfones quase fazendo o delegado engolir os logos dos veículos que representávamos. O Sabido então fez uma cara de dor de barriga como se dissesse “vocês cagaram na minha matéria”.

Neste dia entendi como alguns jornalistas conseguem informações que só eles têm e como muitos agem clandestinamente. Ok, cada um se vira como pode, mas essa coisa de passar a perna nos colegas, pra mim, não desce. Hoje, pelo que sei, esse repórter não está mais nessa gigantesca rede de TV. Parece que saíram com ele. Será que o ditado “aqui se faz, aqui se paga” realmente tem um fundo de verdade?

Monday, September 25, 2006

O Diabo Veste Prada: realidade assustadora

Não estou inspirado para escrever, mas tenho que fazer um registro.

No último domingo fui assistir ao filme O Diabo Veste Prada. Ótimo, engraçado, e realista (claro, se você abstrair e esquecer que é Hollywood). Realista porque como jornalista me senti na pele de Andy Sachs (vivida por Anne Hathaway) quando trabalhei por cerca de um mês num famoso portal de Internet.

Lá também havia uma Miranda Priestly (Meryl Streep, que, acredito, será indicada ao Oscar pela também ótima interpretação). Vendo o filme, lembrei de várias coisas que vi acontecerem no tal portal: os abusos da editora-chefe, a não-permissão para argumentar, o clima tenso e aquela idéia que muitos chefes têm de que “repórteres não pensam, recebem pauta”.

Acho que este filme deveria ser indicado para aqueles sonhadores que acham que o jornalismo é o glamour e salário do William Bonner e da Fátima Bernardes. A certa altura do longa (não vou contar os detalhes) rola uma reunião de pauta na revista fictícia, a Runway. Ali, o vestibulando que não conhece como funciona o nosso mundo pode entender o que o espera.

A diferença da realidade nova-iorquina e a brasileira (não apenas paulistana) é que lá, encontrar emprego caso você não esteja contente com o atual é muito mais fácil. Ah, e o salário vem em dólar.

Sunday, September 24, 2006

Deus lhe pague!

O fato abaixo aconteceu com uma amiga circense.

A pauta dela era sobre consumidores compulsivos, então, ela foi acompanhar a reunião dos D.A. (Devedores Anônimos). Ao chegar lá, a palhaça foi mal tratada pelo “devedor-mor”. Primeiro, ele deu um chá de cadeira, depois disse que não daria entrevista porque não tinha sido avisado.

A repórter desmascarou a farsa e o cara acabou admitindo que um membro de outra unidade tinha avisado que alguém da TV ia procurá-lo. Mesmo assim ele contra-atacou, dizendo que estava esperando apenas uma visita e não uma equipe de reportagem.

Escolada em reportagens sobre grupos de auto-ajuda anônimos (alcoólicos, neuróticos, tarados, etc.), ela deu a palavra dela de que preservaria a identidade dos entrevistados, desfocando os rostos das pessoas e filmando alguns de costas. Mas o “endividado convicto” ficou batendo na mesma tecla e por fim confessou que não gosta de dar entrevista porque outro dia uma “X” emissora chegou atrasada e tomou muito tempo para gravar.

O diálogo foi esquentando até que a pobre coitada não agüentou os argumentos infantis, o desrespeito ao trabalho dela e disparou: “Você está sendo egoísta. Você não está pensando no benefício que a reportagem vai trazer para pessoas que necessitam de ajuda e desconhecem o trabalho dos D.A.”

Arrogante, o “graduado no SPC” rebateu com o nariz empinado dizendo não precisa da imprensa para divulgar o trabalho do D.A e que a entidade só depende de Deus!

Enfim, a repórter saiu sem à matéria, mas quem ficou no prejuízo foi à entidade, que amargará o obscuro anonimato, minando as possibilidades de conseguir ajuda para manter o grupo, pois, vale lembrar, que os membros não têm nenhum tostão no bolso e nem crédito na praça!

Tuesday, September 19, 2006

Reza brava

Um dia desses ví uma cena inusitada: uma palhaça gesticulando rapidamente o sinal da cruz antes de tocar o pé direito na entrada do circo.

A priori pensei: "Coitada! O ambiente deve ser tão carregado, que a circense tem que pedir ajuda divina pra encarar o batente".

Mas soube outro dia que a moçoila encerrou as apresentações dela naquele picadeiro. Foi aí que entendi o tal gesto: "Obrigada senhor por hoje ser meu último dia neste inferno".

Gostaria que um dia todos os circenses pudessem experimentar a mesma sensação da palhacinha abençoada. E queria saber qual foi a reza brava que ela fez?

OP (Operação Portugal)

Muitos jornalistas já estão acostumados às OPs (operação portugal, juro que o preconceito não é meu. Descupem, lusitanos amigos). Geralmente são pedidos dos donos dos circos, que acreditam que suas idéias ridículas são brilhantes. Onde há um repórter com nariz de palhaço, há uma ordem de OP. E eu, que não tiro meu adereço por nada, tenho várias dessas no currículo.
A homérica foi quando, após mais um período de desemprego, fui parar na editoria de economia. Foi na época da descoberta dos produtos maquiados. Empresas mudavam a quantidade de produto nas embalagens sem avisar os consumidores. Foi nesta época que o papel higiênico passou dos 40 m para os 30m e as bolachas de 200g passaram a vir só com 180g (acreditam que hoje a Calipso está só com 130g? Um absurdo).
A palhacinha aqui foi escalada para mais uma brilhante OP de sua carreira: encontrar nas lanchonetes do centro a coxinha maquiada. A idéia era achar algum boteco que tivesse diminuído o tamanho do salgado, mas continuasse cobrando o bom e velho R$ 1. Detalhe: Além do personagem com foto reclamando da mudança no tamanho da coxinha, eu tinha de fazer o dono do estabelecimento confirmar a maquiagem. Imagina a cara de "???????" dos botequeiros quando eu perguntava "o senhor diminuiu o tamanho da sua coxinha?".

Café com plus a mais

Em uma editora em um tempo distante, havia um senhor responsável por preparar o café para o pessoal da redação... O café era feito daquela forma primitiva, com filtro de pano e um grande bule. Certa vez, alguns jornalistas viram quando o tal senhor experimentou a doçura do café colocando a colher com a qual havia mexido o precioso líquido na boca... Não satisfeito com o sabor, voltou a mesma colher -- agora enriquecida com saliva -- ao pote de açúcar e novamente ao café... Os ditos jornalistas pararam de tomar o cafezinho, mas só avisaram os coleguinhas muito tempo depois... No final das contas, a história foi confirmada e a empresa resolveu investir numa máquina de café expresso e tudo acabou bem – ou não já que ninguém sabe ao certo o efeito a longo prazo da ingestão de café com saliva alheia...

Ficando famosos!!!

Amigos circenses,

nosso blog está cada vez melhor, cada vez mais divertido, mais engraçado, mais conhecido e muito mais modesto.....rs. Para confirmar a nossa popularidade, um admirador criou uma página no Orkut em nossa homenagem. Para fazer parte dessa comunidade basta acessar o seguinte endereço: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=20683757

Entrando de vez na onda da web 2.0, queremos a sua colaboração para abastecermos nossa página. Se você tem uma história engraçada, presenciou ou participou de uma saia justa, um mico no trabalho ou coisas assim (preferencialmente no mundinho jornalístico), mande o relato pra gente pelo e-mail picadeirodainformacao@pop.com.br - (a nota será publicada depois de analisada por nossa equipe de malabaristas).

Abraço a todos e obrigado

Chefe previsível

Este anúncio do jornalista astrólogo (leia post abaixo) me fez lembrar de um episódio ocorrido num jornal em que trabalhei. Na época eu era estagiária e uma das minhas funções, acreditem, era, todos os dias, pegar o fax que o astrólogo mandava para o jornal com as previsões, digitar o texto e ajudar o diagramador a montá-lo na página. Antes de prosseguir com a história, se faz necessário uma explicação: tudo bem que não sou tão velha assim, mas naquela época e-mail não era uma coisa muito comum, então o tal astrólogo mandava o fax e eu digitava.

Pois bem, um belo dia chegou o horário de eu pegar o fax (+/- 16h) e quem disse que o astrólogo tinha enviado? Liguei para a casa dele para cobrar, para o celular e... nada. E são nessas horas que o tempo parece que corre mais depressa, não é? Já tinha passado o horário de fechar a página e eu não tinha as benditas previsões para pôr. E o pior, não sei o porquê, mas naquele dia nem o editor nem o editor executivo estavam na redação para eu perguntar o que fazer.

Comecei a me apavorar, afinal, era estagiária. Uma amiga, que também era estagiária, viu meu desespero, a cobrança do diagramador e sugeriu que eu mesma fizesse o horóscopo e mandasse. “Ninguém vai saber, disse ela”. No início, achei a idéia absurda, mas com o fechamento mais que atrasado, não tive escolha. Entrei em um site em inglês, traduzi as previsões e mandei bala. Com o cuidado, é claro, de tirar o nome do astrólogo da página naquele dia.

Para mim, o assunto tinha morrido ali. Não é que no outro dia, assim que coloquei o pé na redação, o editor executivo fala alto para todos: “Chegou a nossa astróloga”. A redação inteira começou a bater palmas para mim. Quis morrer de vergonha, me atirar pela janela! A única coisa que vinha na minha cabeça era: “como eles descobriram?”. A resposta veio em seguida, em um particular com meu chefe na “geladeira” (uma salinha da redação onde ficavam os servidores, com um ar condicionado fortíssimo, que era usada para as broncas): depois que eu fui embora, o astrólogo ligou para o jornal pedindo desculpas por não ter enviado as previsões porque tinha morrido um parente. Levei uma bronca daquelas. Ainda tentei argumentar que as previsões não eram minhas, tinha pego em um site, traduzido e tudo mais (a maior trabalheira), mas de nada adiantou. A conversa terminou com um “que isso não se repita”. Nem preciso dizer que fiquei arrasada! Me sentindo a pior jornalista da face da terra...

Mas, como no jornalismo tudo pode acontecer, no dia seguinte da bronca, uma leitora ligou lá no jornal agradecendo pelas previsões. Disse que no dia anterior, conforme estava escrito no signo dela, ela tinha recebido uma notícia boa (tinha sido contratada por uma empresa). O pior foi meu chefe tendo que contar isso para mim e ainda dizendo: “me passa o endereço do site que você pegou as previsões... caso o astrólogo volte a dar mancada, a gente pega de lá...

*** História enviada pela jornalista colaboradora "Equilibrista"

Friday, September 15, 2006

Precisa-se de palhaços

Recebi por e-mail a vaga abaixo:

Estou procurando um jornalista que entenda de astrologia e consiga escrever 360 previsões mensais, totalizando 12 previsões diárias. Este material será gravado e inserido em uma grande operadora de telefonia celular.
E-mails para: guthierrez@yahoo.com.br


Decifrando a vaga para o respeitável público:

Preciso de um palhaço que saiba encher linguiça, tipo inventar umas previsões de horóscopo para uma operadora de telefonia celular, que adora lançar serviços para sugar mais a grana do cliente.
Na verdade, o circense vai ter que fazer o truque da multiplicação dos peixes porque ele terá de escrever 12 previsões todo santo dia, que totalizarão 360 textos, ou seja, vai trabalhar 30 dias SEM FOLGA!
Nem me atrevo a revelar de cara o salário no anúncio, senão, ao invés de currículos vou receber spams. Enfim, você vai ter que escrever pra mim para que eu analise se o seu perfil é melhor de frente ou de costas (ahahahaha).


Tá ou não tá chamando a gente de palhaço?
"Qué pagá quanto?"
Dá vontade de trabalhar lá só pra chutar o pau do circo! Repassei a vaga para alguns amigos porque o mercado de trabalho está péssimo e tem muita gente boa sobrando, passando aperto, topando o que aparecer.
Se alguém preencher a vaga, por favor, zoe bastante no circo por nós e depois faça seu espetáculo no nosso Picadeiro.

Tuesday, September 12, 2006

Delivery

Esta história não tem nada a ver com jornalistas, mas achei legal colocar para a gente ver que em todas as áreas existem frias.

A namorada do meu irmão tem um mercado, que entrega água em casas. Mas ela só faz entrega de água, ou seja, de nenhum outro produto. Eis que um dia uma mulher liga lá pedindo um galão de 20 litros e pede, toda chorosa se ela não poderia levar um pote de margarina pq o filho estava doente e ela não podia sair e bla-bla-blá. Minha cunhada, com dó da mulher, falou que tudo bem. A mulher então disse que queria da marca X e com sal. Só que no mercado a marca X só tinha sem sal. Mesmo assim, ela levou e na hora falou para a mulher: “se vc não quiser ficar com a margarina, tudo bem, eu levo de volta. É que só tinha sem sal e trouxe essa mesmo, mas não tem nenhum problema se a senhora não quiser ficar”. A mulher pensou e disse que tudo bem, que ficava com o pote assim mesmo.

À tarde, a mulher ligou para o mercado dizendo que não queria mais a margarina justamente pq era sem sal e que era para a minha cunhada ir lá pegar o pote e devolver o dinheiro. Pacientemente, minha cunhada disse que não poderia ir lá na casa da mulher aquela hora pq o mercado estava lotado. Às 18h55 (sendo que o mercado fecha às 17h) a mulher ligou de novo perguntando se a minha cunhada não poderia ir lá naquela hora fazer a troca. Já nem tanto paciente assim, minha cunhada falou que se ela devolvia o dinheiro, mas que a mulher tinha que ir no mercado levar a margarina. No dia seguinte, antes do mercado abrir, a mulher estava lá, super nervosa para fazer a troca, falando que aquilo era um desrespeito ao consumidor, que o mercado tinha vendido um produto que ela não queria e bla-bla-blá. Para se livrar da mulher, minha cunhada devolveu o dinheiro, pegou a margarina de volta, colocou na geladeira para vender de novo e pronto.

Engana-se, porém, quem pensa que a história acabou. No dia seguinte a irmã da mulher apareceu no mercado e falou: “Sabe aquela margarina que minha irmã veio devolver ontem? Pois é... É que eu tinha aberto ela e comido um pouco, mas minha irmã não sabia...”. Imediatamente minha cunhada foi para a geladeira tirar o porte e, como para o pior não há limites, a margarina tinha sido vendida...

Agora minha cunhada, coitada, está lá, esperando quem comprou a margarina aberta vir reclamar. Imaginem o que ela vai ouvir — fora que vai sair no prejuízo pq vai ter que, no mínimo, dar um pote novo para a pessoa... Fiquei pensando: às vezes é isso que dá querer ajudar os outros, não é?

*** História enviada pela jornalista colaboradora "Equilibrista"

Sunday, September 10, 2006

Se vira nos 30

Tenho uma colega que trabalha numa das afiliadas de uma grande emissora de TV do país.

A circense dá show no jornalismo, mas de vez em quando o QG do circo pede "serviço extra picadeiro", que é de interesse a outros departamentos da casa.

Outro dia, pediram para ela procurar "talentos anônimos", pessoas que saibam fazer alguma coisa difícil ou diferente, para participarem de uma atração dentro de um programa dominical.

Entre uma matéria e outra ela teve que se virar nos 30 pra caçar esses "artistas do povo". Que mico! Nem rolou gorjeta! Parece piada de circo com direito a trilha sonora: "...se ela dança eu danço! Se ela dança eu danço..."

Wednesday, September 06, 2006

Um jabá, caso um não-jornalista visite esse blog, é um presentinho que uma fonte mal-intencionada envia para comprar um de nossos coleguinhas... No entanto, o sentido do termo ampliou e hoje qq presentinho que chega à redação já ganha o nome de jabá... Pois bem, jabás são proporcionais ao tamanho e importância das empresas de comunicação e do profissional. Tempos atrás, eu era uma estagiária de uma pequena agência de comunicação. Daí que vcs podem imaginar os jabás que recebíamos: chinelos de dedo com o logo de uma empresa, esponja de banho, camisetas de propaganda... coisas assim...
Foi então que o chefe teve a brilhante idéia de dar um fio aqueles jabás porcarias que chegavam na redação. Resolveu q toda semana, na sexta-feira, depois do horário do expediente, rolaria um bingo e os prêmios seriam os jabás... Claro que todo mundo achou a idéia uma droga e ele, já prevendo isso, estipulou tb que a participação no bingo era obrigatória porque era uma ação para integrar a equipe... Vai entender...

O preço do poder

Às vezes fico pensando se ser rico é bom. Imagino que devam ser tantas preocupações...

Um dia, a chefa mor da área editorial de uma empresa em que trabalhei falava alto ao telefone (e parece que para todo mundo ouvir) com o pedreiro responsável por uma reforminha no apartamento dela em Higienópolis.

A transcrição é mais ou menos assim: “Mas João, quando essa reforma vai terminar? Não agüento mais. Você terminou tal coisa no banheiro azul? Olha, no banheiro branco tem que mexer em tal coisa. Ah, no banheiro das crianças tem que pedir para diminuir a sucção da hidro. Já pensou se puxa o cabelo da minha filha e ela morre afogada?”

O meu primeiro pensamento foi: caramba, ela deve ter um salário astronômico! O segundo foi: que cagona. Pra que tantos banheiros? O terceiro foi: quanta preocupação. Ela não deve dormir à noite.

Então me pergunto: será que quero preocupações como essa pra mim? Só sei de uma coisa, não é como jornalista que alcançarei status para tal.